Muito se tem falado sobre o “novo normal” nos dias de hoje. Empresários, veículos de comunicação, coaches, filósofos, influencers, todos estão discutindo o que seria esse “novo normal” aplicado em sua respectivas áreas.
Não há dúvidas de que o comportamento do consumidor tem mudado e, principalmente durante um cenário pós-pandemia, é bem provável que essa mudança se sustente por um tempo.
Mas será que essas mudanças têm afetado as startups? O que é esse “novo normal” para elas?
“Eu nasci assim, eu cresci assim…”
A transformação nas relações de trabalho e a adoção de práticas até então pouco difundidas no ambiente corporativo tradicional, tem feito muitas empresas voltarem sua atenção para o “modus operandi” das startups.
Reuniões remotas, contratos digitais, metodologia agile, entre outras práticas, sempre foram a base dessas empresas conhecidas por conviverem muito bem em cenários de constantes mudanças.
Talvez você esteja vivenciando uma dessas práticas agora, como por exemplo, o tão falado “digital first everything” sem saber que conceber um produto/serviço dessa maneira nunca foi uma opção para as startups e sim o único caminho possível.
Mas como tudo isso começou?
A origem das startups
A região conhecida como Vale do Silício deu origem ao que hoje chamamos de startup. Tudo começou em 1940, em New Jersey, quando um time de físicos, em um centro de pesquisa, desenvolveu o transistor.
Rapidamente esse novo dispositivo semicondutor começou a substituir outras tecnologias de processamento de sinais e se tornou tão importante que seus três inventores receberam o prêmio Nobel: John Bardeen, Willian Bradford Shockley e Walter Houser Brattain.
Em 1955, Shockley decide deixar o laboratório e criar uma companhia que produzisse transistores. Ele considerou instalá-la em Boston mas acabou escolhendo o lugar de seu nascimento, Mountain View, uma pequena cidade agrícola 80 quilômetros ao sul de São Francisco.
Na época, não havia mão de obra qualificada nessa região, fazendo com que ele saísse pelos EUA procurando e recrutando pessoas para trabalharem com ele. No final dessa jornada, ele conseguiu 8 promissores engenheiros e pesquisadores que formaram o núcleo da sua nova empresa.
Infelizmente, após construir esse time incrível, ele acabou se tornando um péssimo chefe e depois de apenas um ano os 8 funcionários renunciaram ao cargo no mesmo dia. A empresa fechou poucos anos depois. (Impressionante o que uma péssima liderança é capaz de fazer com um time de estrelas, qualquer similaridade nos dias de hoje não é mera coincidência).
Os 8 engenheiros que haviam se mudado para região com família e já tinham se adaptado ao local não encontravam empresas que absorvessem esse tipo de profissional na região. Até que eles se depararam com um empreendedor serial de Nova York chamado Sherman Fairchild, que concordou em financiar uma nova companhia, nascendo então a Fairchild Semiconductor em 1957.
Quer saber mais sobre como investir em uma startup, confira esse artigo: “4 passos para investir em uma startup“.
Fairchild Semiconductor
Sherman ajudou a nova empresa a fechar o primeiro contrato com a IBM, que deu visibilidade e fez com que eles começassem a vender para a indústria militar. Em meados dos anos 1960, o grupo gerava 90 milhões de dólares em vendas.
A expansão da indústria de chips de computadores começou quando os funcionários da Fairchild, inspirando-se nos 8 co-fundadores, deixaram seus cargos e criaram novos negócios a partir do primeiro – os chamados spinoffs.
Os 8 co-fundadores se comprometeram a apoiar muitos desses novos empreendedores inclusive reinvestindo seu próprio capital em novas empresas. Em 1961, eles criam o primeiro fundo de capital de risco da região, que passou a investir em outras quinze companhias.
Quer saber mais sobre o processo de levantar capital junto a investidores, confira esse artigo: “Nem só de ideias vivem as Startups – o Processo de Fundraising“.
O termo “startup”
Em 1971, o jornalista Don Hofler cunhou o termo “Vale do Silício” onde, na época, havia muitas empresas de chip instaladas. Elas utilizavam o silício como matéria prima e estavam localizadas em um vale agrícola ao sul da cidade. Nesse período, mais de 30 spinoffs haviam emergido da Fairchild.
Nesse contexto, o termo startup é usado em 1976 na Forbes com o sentido de negócio e em 1977 na Business Week com o sentido de empresa. Duas décadas mais tarde, durante a crise das empresas.com, o termo começou a ser muito difundido. Nessa ocasião, ele significava um grupo de pessoas trabalhando por uma ideia diferente e com potencial de fazer dinheiro.
Hoje, 70% das empresas do Vale do Silício estão ligadas à Fairchild Semiconductor. Elas possuem US$ 2,1 trilhões (cerca de 1,3 vezes o PIB brasileiro de 2018!) em valor agregado além de empregarem quase 800 mil pessoas.
Claro que esse sucesso não foi um acidente. As ações dos 8 co-fundadores da Fairchild estabeleceram um padrão que passou a ser repetido por novas empresas dentro da indústria. Como resultado, esse comportamento deu origem aos fatores que fazem um ecossistema empreendedor ser bem sucedido.
Mas será que todas as startups possuem características em comum?
O “normal” para as startups
Analisando esse grupo de empresas formado pelos unicórnios brasileiros (empresas privadas que atingiram o valor de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão), conseguimos destacar as 5 características fundamentais de qualquer startup:
- Possuem BASE TECNOLÓGICA;
- Resolvem PROBLEMAS DO MUNDO REAL;
- Possuem MODELOS DE NEGÓCIOS REPETÍVEIS E ESCALÁVEIS;
- Trazem INOVAÇÃO;
- Atuam em CENÁRIOS INCERTOS E DE MUITO RISCO.
Dessa forma, muito do que é perseguido pelas grandes corporações, nos dias atuais, é intrínseco e natural às startups desde sempre. Esse fato gera uma oportunidade enorme de aprendizado e crescimento para as grandes corporações.
Inovação aberta e corporativa
A pandemia fez com que as empresas tradicionais começassem a falar a mesma língua das startups em um cenário cada vez mais digitalizado, onipresente, descentralizado e, que de certa maneira, conecta tudo e todos.
Esse é o primeiro passo na reinvenção dos modelos de negócio clássicos. Uma das formas de continuar essa transformação é através da inovação aberta, que consiste na união do conhecimento interno com a inovação gerada externamente. Nessa situação, a empresa busca fazer parcerias com agentes externos em determinados projetos, e muitas vezes, com a participação de startups.
Uma outra maneira de adaptar produtos/serviços para que eles sejam aderentes à realidade é implementar a inovação corporativa. Nesse caso, as empresas incluem inovação nos modelos de negócio já existentes. Esse processo torna a empresa mais competitiva permitindo que penetre em novos mercados mais rapidamente.
Claro que tudo isso só funciona dentro de uma verdadeira cultura da inovação. A boa vontade de apenas uma parcela da empresa não é suficiente para torná-la inovadora. Entretanto, é inegável que a quarentena/lockdown impulsionou a urgência pela mudança e trouxe à tona a problemática presente nas empresas que até então insistiam na manutenção das práticas pré-históricas.
O “novo normal” para as empresas tradicionais sempre foi a realidade das startups. Por que não aproveitar esse conhecimento e transformar aquilo que não cabe mais no nosso cotidiano?
E você, já teve contato com esse universo das startups? Que prática “startupera” você adotou na sua rotina? Deixe aqui seu comentário 🙂
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Até lá!
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