É inegável que o crowdfunding de investimentos tem conseguido cada vez mais espaço no mercado financeiro e, consequentemente, se tornado uma opção de investimento no portfólio não só do investidor brasileiro mas uma tendência no mercado global.

Estudos do Goldman Sachs sugerem que o mercado de equity crowdfunding atingirá cerca de US$ 1 trilhão em 2026. No Brasil, essa modalidade de investimento permitiu a captação de R$ 46 milhões em 2018, um aumento de 451% na comparação com 2016, crescimento esse fortemente impulsionado pela regulamentação da CVM.

Nesse contexto, surge uma dúvida bem comum compartilhada entre investidores e muitas vezes entre os próprios empreendedores: como avaliar uma startup?

Existem duas principais vertentes de análise, assim como acontece com a avaliação de uma ação no mercado financeiro: a análise qualitativa e a quantitativa.

Foto: Unsplash.

Show me the reasons! – Análise Qualitativa

Esse tipo de análise tem o objetivo de compreender as motivações da startup e como a sua forma de estruturação pode contribuir para o sucesso do negócio. Nesse contexto, podemos listar as seguintes questões:

  1. Qual é o problema que a startup resolve?
  2. Qual é o tamanho do mercado ao qual a startup está envolvida?
  3. Qual é o modelo de negócio? (B2B, B2C …)
  4. Qual é a forma de monetização? (freemium, venda direta, comissão …)
  5. Quais são os concorrentes?
  6. Qual é o time?
  7. Qual é o estágio de crescimento?

Responder essas perguntas é o primeiro passo na avaliação de uma startup e no entendimento se uma oferta constitui uma ótima oportunidade.

Em contrapartida, vale lembrar que a CBInsights lista os três principais motivos pelos quais as startups não prosperam no mercado:

  • solução em busca de um problema, ou seja, não existe mercado para determinada solução,
  • falta de dinheiro para o financiamento da empresa,
  • falta de um time adequado.

Show me the numbers! – Análise Quantitativa

Nesse outro tipo de análise, o objetivo é entender a startup através de seus dados numéricos e a partir deles estimar se a empresa está evoluindo no ritmo e no caminho correto.

Saber identificar a fase em que os empreendedores e a startup se encontram é essencial para identificar o preço justo da empresa e qual o retorno de um possível investimento.

Startups que estão na fase de ideação ou desenvolvimento do MVP naturalmente possuem um menor valuation que aquelas que já estão em fase operacional ou em tração.

Gráfico: Ciclo de vida de uma startup. Fonte: material “Como investir em startups” da SMU.

Cada uma dessas fases de desenvolvimento é suportada financeiramente por investidores com características e preocupações diferentes.

Por exemplo, quando a startup está na fase de ideação e planejamento, geralmente os investidores são os próprios fundadores, a família e os amigos (esse grupo é conhecido no mercado como FFF – Founders, Family and Fools).

Quer saber mais sobre os agentes envolvidos no processo de captação de investimentos, confira esse artigo: “Nem só de Ideias vivem as Startups – o Processo de Fundraising“.

Crescimento e Disrupção do Mercado

O foco do investidor deve estar no crescimento da empresa e não no lucro. O que importa realmente é quanto a empresa valerá na próxima rodada de investimento.

E esse valor é diretamente influenciado pelo buzz do segmento e tamanho do mercado, pela capacidade de entrega da equipe, pelo produto/serviço e sua vantagem competitiva e se a empresa é atrativa para grandes investidores ou empresas do segmento de forma que exista a possibilidade de uma saída potencial lucrativa.

Veja a seguir, dois exemplos significativos de crescimento exponential: o próprio LinkedIn e o Quinto Andar.

Gráfico: Crescimento exponencial do número de usuário do LinkedIn. Fonte: LinkedIn e Statista.
Gráfico: Crescimento exponencial do GMV (volume bruto de mercadorias transacionadas na plataforma) do Quinto Andar. Fonte: material “Como investir em startups” da SMU.

Saber as possibilidade de retorno é imprescindível para que um investimento tenha sucesso. E esse retorno normalmente dependerá da modalidade de investimento escolhida e da performance da empresa.

Além disso, analisar o histórico da empresa e dos sócios (documentos como contrato social, CNPJ, CND – Certidão Negativa de Débito, balanços, DREs desde a fundação e histórico de processos judiciais) é um importante indicador para prever seus próximos passos.

Métodos de Valuation

Os métodos mais comuns para a definição do Valor Pré-Capital (Pre-Money Valuation), ou seja, do valor da startup no momento do investimento são:

Startups que ainda não possuem faturamento:

  • Berkus– avaliação baseada na análise de 5 fatores chave.
  • Avaliação de Fatores de Risco – avaliação baseada em um valor base ajustado por 12 fatores de risco padrão.
  • Scorecard – avaliação baseada em uma média ponderada ajustada por uma empresa similar.

Startups que já possuem faturamento:

Startups com ou sem faturamento:

Claro que se o empreendedor não souber explicar suas projeções, não conhecer as suas métricas nem o seu mercado, provavelmente esse investimento não vale a pena nem de ser analisado.

A Arte da Estimativa

O processo de valuation é a formalização de uma estimativa. A aplicação das análises qualitativa e quantitativa facilita a elaboração de um racional por trás dos números e das expectativas da empresa e dos investidores, colaborando dessa forma com a tomada de decisão.

Mas sabemos que muito do que acontece no mercado é reflexo da disputa entre oferta (empresa disposta a levantar capital) e demanda (investidores dispostos a investir capital), fazendo com que muitas análises sejam comparativas e com foco no quão aceitável é a diluição dos fundadores, ou seja, se os mesmo ainda serão acionistas majoritários após algumas rodadas de investimentos.

Gráfico: Quantidade ideal de capital a partir da utilidade do capital para a empresa e da diluição do empreendedor. Fonte: Pierre Entremont.

Você deve estar se perguntando então qual é a melhor estratégia para a definição do valor da startup. Acredito que a combinação entre análise qualitativa, análise quantitativa, oferta e demanda e a sensibilidade à diluição por parte do empreendedor seja uma boa abordagem na busca da “estimativa mais assertiva”.

E você, o que acha do valuation de startups? Utiliza algum método que eu não citei? Deixe seu comentário.

Publicado originalmente no LinkedIn.


Tamara Ferreira Schmidt

Física, empreendedora, especialista em mercado financeiro com fortes habilidades analíticas e quantitativas. Movida pela curiosidade e pelo objetivo de fazer a diferença atuo com inovação em iniciativas independentes.

0 comentário

Deixe uma resposta

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *